sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A interpretação da Bíblia na Igreja


I. MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A INTERPRETAÇÃO

A. Método histórico-crítico

O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos antigos.
Como a Santa Escritura, enquanto “Palavra de Deus em linguagem humana” , foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, sua justa compreensão não só admite como legítimo, mas pede a utilização deste método.

1. História do método

Para apreciar corretamente este método em seu estado atual, convém dar uma olhada em sua história.
Certos elementos deste método de interpretação são muito antigos.
Eles foram utilizados na antiguidade por comentadores gregos da literatura clássica e, mais tarde, durante o período patrístico, por autores como Orígenes, Jerônimo e Agostinho.
O método era, então, menos elaborado. Suas formas modernas são o resultado de aperfeiçoamentos, trazidos, sobretudo desde os humanistas da Renascença e o recursus ad fontes deles.
Enquanto que a crítica textual do Novo Testamento só pôde se desenvolver como disciplina científica a partir de 1800, depois que se desligou do Textus receptus, os primórdios da crítica literária remontam ao século XVII, com a obra de Richard Simon, que chamou a atenção sobre as repetições, as divergências no conteúdo e as diferenças de estilo observáveis no Pentatêuco, constatações dificilmente conciliáveis com a atribuição de todo o texto a um autor único, Moisés.
No século XVIII, Jean Astruc contentou-se ainda em dar como explicação que Moisés tinha se servido de várias fontes (sobretudo de duas fontes principais) para compor o Livro do Gênesis, mas, em seguida, a crítica contesta cada vez mais resolutamente a atribuição da composição do Pentatêuco a Moisés.
A crítica literária identificou-se muito tempo com um esforço para discernir diversas fontes nos textos.
É assim que se desenvolveu, no século XIX, a hipótese dos “ documentos”, que procura explicar a redação do Pentatêuco.
Quatro documentos, em parte paralelos entre si, mas provenientes de épocas diferentes, teriam sido incorporados: o yahvista (J), o elohista (E), o deuteronomista (D) e o sacerdotal (P: do alemão “Priester”); é deste último que o redator final teria se servido para estruturar o conjunto.
De maneira análoga, para explicar ao mesmo tempo as convergências e as divergências constatadas entre os três Evangelhos sinóticos, recorreram à hipótese das duas “fontes”, segundo a qual os Evangelhos de Mateus e o de Lucas teriam sido compostos a partir de duas fontes principais: o Evangelho de Marcos de um lado e, de outro lado, uma compilação das palavras de Jesus (chamada Q, do alemão “Quelle”, “fonte”).
Essencialmente estas duas hipóteses são ainda aceitas atualmente na exegese científica, mas elas são objeto de contestações.

No desejo de estabelecer a cronologia dos textos bíblicos, esse gênero de crítica literária se limitava a um trabalho de cortes e de decomposição para distinguir as diversas fontes e não dava uma atenção suficiente à estrutura final do texto bíblico e à mensagem que ele exprime em seu estado atual (mostrava-se pouca estima pela obra dos redatores).
Dessa maneira a exegese histórico-crítica podia aparecer como fragmentária e destrutora, ainda mais que certos exegetas sob a influência da história comparada das religiões, tal como ela se praticava então, ou partindo de concepções filosóficas, emitiam contra a Bíblia julgamentos negativos.

Hermann Gunkel fez o método sair do gueto da crítica literária entendida desta maneira.
Se bem tenha continuado a considerar os livros do Pentatêuco como compilações, ele aplicou sua atenção à textura particular das diferentes partes.
Ele procurou definir o gênero de cada uma (por exemplo, « legenda » ou « hino ») e seu ambiente de origem ou « Sitz im Lebem » ( por exemplo, situação jurídica, liturgia, etc.).
A esta pesquisa dos gêneros literários assemelha-se o « estudo crítico das formas » (« Formgeschichte ») inaugurada na exegese dos sinóticos por Martin Dibelius e Rudolf Bultmann.
Este último misturou aos estudos de « Formgeschichte » uma hermenêutica bíblica inspirada na filosofia existencialista de Martin Heidegger.
Em conseqüência, a Formgeschichte suscitou muitas vezes sérias reservas. Mas este método, em si mesmo, teve como resultado a declaração de que a tradição néo-testamentária obteve sua origem e tomou sua forma na comunidade cristã, ou Igreja primitiva, passando da pregação do próprio Jesus à predigação que proclama que Jesus é o Cristo.
« Formgeschichte » aliou-se a « Redaktionsgeschichte », « estudo crítico da redação ». Esta última procura colocar em evidência a contribuição pessoal de cada evangelista e as orientações teológicas que guiaram o trabalho de redação deles.
Com a utilização deste último método, a série das diferentes etapas do método histórico-crítico tornou-se mais completa: da crítica textual passa-se a uma crítica literária que decompõe (pesquisa das fontes), depois a um estudo crítico das formas, enfim a uma análise da redação, que é atenta ao texto em sua composição.
Desta maneira tornou-se possível uma compreensão mais clara da intenção dos autores e redatores da Bíblia, assim como da mensagem que eles dirigiram aos primeiros destinatários. O método histórico-crítico adquiriu então uma importância de primeiro plano.

2. Princípios

Os princípios fundamentais do método histórico-crítico em sua forma clássica são os seguintes:
É um método histórico, não só porque ele se aplica a textos antigos — no caso, aqueles da Bíblia — e estuda seu alcance histórico, mas também e sobretudo porque ele procura elucidar os processos históricos de produção dos textos bíblicos, processos diacrônicos[1] algumas vezes complicados e de longa duração.
Em suas diferentes etapas de produção, os textos da Bíblia são dirigidos a diversas categorias de ouvintes ou de leitores, que se encontravam em situações de tempo e de espaço diferentes.

É um método crítico, porque ele opera com a ajuda de critérios científicos tão objetivos quanto possíveis em cada uma de suas etapas (da crítica textual ao estudo crítico da redação), de maneira a tornar acessível ao leitor moderno o sentido dos textos bíblicos, muitas vezes difíceis de perceber.

Método analítico, ele estuda o texto bíblico da mesma maneira que qualquer outro texto da antiguidade e o comenta enquanto linguagem humana. Entretanto, ele permite ao exegeta, sobretudo no estudo crítico da redação dos textos, perceber melhor o conteúdo da revelação divina.

3. Descrição

No estágio atual de seu desenvolvimento, o método histórico-crítico percorre as seguintes etapas:

A crítica textual, praticada há muito mais tempo, abre a série das operações científicas.
Baseando-se no testemunho dos mais antigos e melhores manuscritos, assim como dos papiros, das traduções antigas e da patrística, ela procura, segundo regras determinadas, estabelecer um texto bíblico que seja tão próximo quanto possível ao texto original.

O texto é em seguida submetido a uma análise lingüística (morfologia e sintaxe) e semântica, que utiliza os conhecimentos obtidos graças aos estudos de filologia histórica.
A crítica literária esforça-se então em discernir o início e o fim das unidades textuais, grandes e pequenas, e em verificar a coerência interna dos textos.
A existência de repetições, de divergências inconciliáveis e de outros indícios, manifesta o caráter compósito de certos textos.
Estes então são divididos em pequenas unidades, das quais estuda-se a dependência possível a diversas fontes.
A crítica dos gêneros procura determinar os gêneros literários, ambiente de origem, traços específicos e evolução desses textos.
A crítica das tradições situa os textos em correntes de tradição, das quais ela procura determinar a evolução no decorrer da história.
Enfim, a crítica da redação estuda as modificações que os textos sofreram antes de terem um estado final fixado, esforçando-se em discernir as orientações que lhes são próprias.
Enquanto as etapas precedentes procuraram explicar o texto pela sua gênese, em uma perspectiva diacrônica, esta última etapa termina com um estudo sincrônico: explica-se aqui o texto em si, graças às relações mútuas de seus diversos elementos e considerando-o sob seu aspecto de mensagem comunicada pelo autor a seus contemporâneos.
A função pragmática[2] do texto pode então ser levada em consideração.

Quando os textos estudados pertencem a um gênero literário histórico ou estão em relação com acontecimentos da história, a crítica histórica completa a crítica literária para determinar seu alcance histórico, no sentido moderno da expressão.

São desta maneira que são colocadas em evidência as diferentes etapas do desenrolar concreto da revelação bíblica.

4. Avaliação

Que valor dar ao método histórico-crítico, em particular no estágio atual de sua evolução?

É um método que, utilizado de maneira objetiva, não implica em si nenhum a priori: Se sua utilização é acompanhada de tais a priori, isto não é devido ao método em si, mas a opiniões hermenêuticas que orientam a interpretação e podem ser tendenciosas.

Orientado, em seu início, como crítica das fontes e da história das religiões, o método obteve como resultado a abertura de um novo acesso à Bíblia, mostrando que ela é uma coleção de escritos que, muitas vezes, sobretudo para o Antigo Testamento, não têm um autor único, mas tiveram uma longa pré-história inextricavelmente ligada à história de Israel ou àquela da Igreja primitiva.
Precedentemente, a interpretação judaica ou cristã da Bíblia não tinha uma consciência clara das condições históricas concretas e diversas nas quais a Palavra de Deus se enraizou.
Ela tinha disto um conhecimento global e longínquo.
O confronto da exegese tradicional com uma abordagem científica que em seu início fazia conscientemente abstração da fé e algumas vezes mesmo se opunha a ela, foi seguramente dolorosa; depois, no entanto, ela se revelou salutar: uma vez que o método foi liberado dos preconceitos extrínsecos, ele conduziu a uma compreensão mais exata da verdade da Santa Escritura (cf Dei Verbum, 12).
Segundo a Divino afflante Spiritu, a procura do sentido literal da Escritura é uma tarefa essencial da exegese e, para cumprir esta tarefa, é necessário determinar o gênero literário dos textos (cf E.B., 560), o que se realiza com a ajuda do método histórico-crítico.

Com certeza o uso clássico do método histórico-crítico manifesta limites, pois ele se restringe à procura do sentido do texto bíblico nas circunstâncias históricas de sua produção e não se interessa pelas outras potencialidades de sentido que se manifestaram no decorrer das épocas posteriores da revelação bíblica e da história da Igreja.
No entanto, esse método contribuiu à produção de obras de exegese e de teologia bíblica de grande valor.

Renunciou-se há muito tempo a um amálgama do método com um sistema filosófico. Recentemente uma tendência exegética orientou o método insistindo predominantemente sobre a forma do texto, com menor atenção ao seu conteúdo, mas esta tendência foi corrigida graças à contribuição de uma semântica diferenciada (semântica das palavras, das frases, do texto) e ao estudo do aspecto pragmático dos textos.

A respeito da inclusão no método, de uma análise sincrônica dos textos, deve-se reconhecer que se trata de uma operação legítima, pois é o texto em seu estado final, e não uma redação anterior, que é expressão da Palavra de Deus.
Mas o estudo diacrônico continua indispensável para o discernimento do dinamismo histórico que anima a Santa Escritura e para manifestar sua rica complexidade: por exemplo, o código da Aliança (Ex 21,23) reflete um estado político, social e religioso da sociedade israelita diferente daquele que refletem as outras legislações conservadas no Deuteronómio (Dt 12,26) e no Levítico (código de santidade, Lv 17-26).
À tendência de reduzir tudo ao aspecto histórico, que se pôde repreender na antiga exegese histórico-crítica, seria o caso que não sucedesse o excesso inverso: o de um esquecimento da história, por parte de uma exegese exclusivamente sincrônica³[3].

Em definitivo, o objetivo do método histórico-crítico é de colocar em evidência, de maneira, sobretudo diacrônica, o sentido expresso pelos autores e redatores. Com a ajuda de outros métodos e abordagens, ele abre ao leitor moderno o acesso ao significado do texto da Bíblia, tal como o temos.

B. Novos métodos de análise literária
C. Abordagens baseadas na Tradição
D. Abordagens através das ciências humanas
E. Abordagens contextuais
1. Abordagem da libertação
2. Abordagem feminista
F. Leitura fundamentalista

[1] dia=através,e chronos= tempo
[2] conjunto de formulas
[3] syn=com, chronos=tempo

nota: A bordagem diacrônica e sincronica: O conhecimento histórico procura compreender o rastro que o mundo do passado deixou no nosso mundo de hoje, porque é essencialmente o mesmo mundo, embora em contínua mutação.Entendendo a história eu entendo melhor o meu mundo de hoje, porque este tem suas raízes no mundo de ontem. Isso, contudo, não é suficiente, porque o passado não é o presente em estruturas e relações, em sua realidade e potencialidade. È como conhecer uma pessoa: conhecer seu passado é certamente indispensável, mas isso não esgota a realidade que ela é hoje nem a explica totalmente. Podemos aplicar esta comparação ao conhecimento da Bíblia: é importante conhecer a história de sua formação literária e do povo que a produziu. Este processo se chama abordagem diacrônica. Mas a finalidade do estudo é compreender o texto em sua redação final, entender seu sentido no contexto e sua função no livro todo, bem como a relação do próprio livro no conjunto da Bíblia. Esta abordagem se chama sincrônica.
A interpretação da Bíblia na Igreja- Doc. do Vat.

A violência que aparece no AT está de acordo com o sentimento e a moral da época.

Deus age conforme o nível e o entendimento do homem. Também não podemos tomar todos os relatos de violência ao pé da letra, algumas vezes é apenas figura de linguagem e não realidade.
É ainda D. Estevão Bettencourt , no seu livro “Para entender o Antigo Testamento”, quem nos ajuda a entender essas cenas de violência que nos assustam.

O extermínio dos inimigos (hérem, anátema) se baseava num grau de cultura pouco evoluída e também numa concepção religiosa estranha para nós hoje. Não se esqueça que Abraão foi tirado da Mesopotâmia pagã que acreditava que os astros eram deuses.
Neste contexto, cada povo julgava que, na guerra a honra dos seus deuses estava em jogo; uma derrota militar representava vergonha e escárnio para os deuses da nação vencida, assim como a vitória significava triunfo da divindade.

Assim, os deuses dos povos vencedores julgavam que deviam ser religiosamente sacrificados e imolados, por um ato de extermínio total, os homens, as famílias, as cidades, os haveres, do povo vencido. O uso era tão comum que não somente os semitas, mas também os germanos e astecas da América o praticavam no México, já no nosso século XVI .

O escritor Tácito dizia que ”Os vencedores devotaram a Marte e Mercúrio o acampamento inimigo, voto este, em virtude do qual são entregues ao extermínio cavalos, homens e tudo que pertence aos vencidos. ” (Annales, 13,57) Portanto, esta prática era muito comum na Antiguidade antes de Cristo; era o rosto mais duro do paganismo.

Os gauleses, por exemplo, queimavam as presas ou as atiravam aos lagos. A Bíblia mostra outros exemplos disto (2Cr 32,14; Is 37,11; 2Rs 14,11).Esta praxe era familiar aos antigos, normal para eles, e Deus respeitou isto nas suas relações com Israel, até poder mudar este costume devagar, de forma que o povo pudesse entender; foi mudando esta realidade, até que Jesus a modificou completamente no Sermão da Montanha.

Mas foi necessário um processo; de outra forma o povo não entenderia a Revelação de Deus, e talvez o rejeitasse por completo. Para os hebreus o extermínio dos inimigos se tornava religiosamente necessário e imperioso: este povo e ele só, possuía a verdade da fé, para um dia transmiti-la ao mundo; portanto, era de sumo interesse na história sagrada que Israel não deixasse corromper a sua religião.

Então, não havia outro jeito a não ser separar Israel do convívio dos outros povos pagãos, por causa da influência e prejuízo que isto causaria a fé de Israel. Dentro da mentalidade do Antigo Testamento pode-se dizer que o reino das trevas (Satanás) triunfava sobre o reino da luz toda vez que o povo judeu era vencido por seus inimigos.

Os inimigos de Israel eram tidos como inimigos de Javé (Num 10,35; Ex 17,16). O povo judeu achava que o próprio Deus exigia o hérem (Js 10,40).
Mas é bom notar que mesmo praticando o extermínio dos inimigos, Israel o fazia de maneira muito menos cruel do que os outros povos, como os assírios, moabitas, etc.
Essas passagens mostram a maneira cruel dos pagãos tratarem os vencidos (cf. Am 1,3; 2,3; 1,13; Os 14, 1; 2Rs 8,12; 2Rs 25,7; Na 3,10 ).

Portanto, o hérem praticado por Israel era atenuado; e assim, Deus já dava a entender ao povo que era imperfeito (cf. Dt 20,10-18; Dt 21, 10-14; Jz 212,13; 2Sm 20,14-22; 2Sm 8,2; 1Rs 20,31). É claro que houve excessos de crueldade por parte de alguns chefes judeus; e isto não estava de acordo com a vontade de Deus (1Sm 27,8-11; 1Cr 22, 8-10; 28,3).

E Deus repreendeu o povo algumas vezes pela crueldade de alguns chefes israelitas e os punia (cf. Os 1, 4ss; 1Rs 9,2-10; 2Rs 10,1-17 ).Um outro fator a explicar a violência da Bíblia é o fato de que os povos antigos por serem nômades, pastores, eram coletivistas e, não como hoje, individualistas. Não havia o “cada um para si” de hoje. Então, uma pessoa da comunidade que era ferida, atiçava a ira de toda a tribo, que reagia com violência, não apenas contra o agressor, mas contra a sua nação ou tribo.

Em tudo isto vemos a paciência de Deus na sua tarefa de educar o povo. Às vezes encontramos no Antigo Testamento, especialmente nos Salmos, palavras onde o autor sagrado deseja o mal e até a morte aos inimigos.

São frases que, a princípio nos assustam, ofendem a consciência do cristão. Algumas delas são paixão desregrada, e não são propostas pelo Espírito Santo.

Muitas, porém, não são condenáveis; têm significado bom, até hoje válido. Para entendê-las, e preciso entender que os autores sagrados, ao colocar uma causa perante o Senhor, não o faziam a título pessoal, reivindicando direitos particulares, próprios, mas advogavam os interesses do bem, da justiça ou da verdadeira religião; sua causa se identificava com a de Deus, e os seus inimigos vinham a ser também os inimigos de Deus. Com esta mentalidade, e na defesa de Deus, costumavam pedir com rigor o castigo dos adversários. Não podia haver compatibilidade entre o bem e o mal, entre o reino de Deus e o do pecado; e o homem justo devia desejar completa ruína a toda instituição que se opunha a Deus.

Quanto aos termos com que as imprecações são formuladas, elas pertencem ao vocabulário oriental, dado às hipérboles e ênfase.

São muitas vezes tiradas diretamente da linguagem militar ou do direito de guerra de outrora. É o que dá tanta crueldade às frases imprecatórias. Para entender a verdadeira intenção do autor sagrado, é preciso descontar o que essas fórmulas têm de hiperbólico e convencional.

O ler a Bíblia devemos ver nas imprecações a expressão do desejo de que a justiça seja feita, os abusos coibidos; entendendo-as como dirigidas contra os males e o Mal, não contra os maus; mas contra o pecado e contra o reino das trevas.

O cristão tem por lei “amar os inimigos, orar pelos que o perseguem” (Mt 5, 39,44). No entanto, sem desprezar o amor aos homens, ele deve como Jesus, odiar ao pecado e o reino de Satanás; deve desejar sua extirpação completa. É isto mesmo que deseja o salmista; então, ao rezar os Salmos imprecatórios, tenha em vista os vícios e as instituições inimigas do reino de Cristo, todas as instituições e seitas que se esforçam por disseminar o erro e o pecado no mundo. É contra isto que devemos proferir os Salmos imprecatórios.

Autor: Prof. Felipe Aquino

Os vários níveis de leitura da Sagrada Escritura

Os vários níveis de leitura da Sagrada Escritura

Um texto da Sagrada Escritura pode vê-lo de várias maneiras, dependendo dos níveis de leituras que fazemos: oração, liturgia, catequese, teologia, exegese.

Oração:
É direcionamento mais básico e espontâneo de nossa leitura: buscamos no texto bíblico resposta para nossos anseios e luz para nossas decisões, pois nós o tomamos como instrumento para dialogarmos com Deus.

Liturgia:
Os vários textos lidos durante uma celebração não querem apenas nos levar a rezar e a refletir sobre determinados temas. Na verdade, em termos de liturgia, o que celebramos não são temas, e sim acontecimentos, pois é nos acontecimentos que Deus está presente e se revela.

Catequese:
Esta leitura já exige algum conhecimento, não só da História da Salvação, mas também dos Dogmas e da Moral. Conhecer os Dogmas nos ajuda a perceber como os conceitos de nossa fé, que tem suas raízes na experiência bíblica, foram amadurecendo ao longo dos séculos. Conhecer a Moral impede que nossa catequese, diante de situações concretas que exigem de nós discernimento, se perca em “achismos” e subjetivismos.
Em outras palavras, trata-se de ter fundamentos sólidos para podermos atualizar a experiência de fé dos personagens bíblicos e usá-la como elemento formador do intelecto e da vontade.

Teologia:
O discurso sobre os Dogmas, a Moral e a História da Salvação se torna bem mais elaborado e utiliza outros instrumentais: filosofia, história, ciências da linguagem etc.

Exegese:
Busca-se, neste nível, compreender o texto bíblico em si mesmo: as idéias, as intenções, a forma literária de um texto específico e suas relações formais com outros textos.

Bibliografia:
SILVA, Cássio Murilo Dias da. Metodologia de exegese Bíblica. 2ª edição. São Paulo: Paulinas, 2003.